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BEBÊS REBORN E TORCEDORES FANÁTICOS: O CÉREBRO POR TRÁS DOS AFETOS EXTREMOS.

Publicada em: 10/06/2025 21:36 - ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Por Ailton Santanna

Silenciosos, imóveis e incrivelmente realistas, os bebês reborn têm chamado a atenção não apenas por sua aparência, mas pelo vínculo emocional que despertam em algumas mulheres. Apesar de, na maioria dos casos, serem tratados como objetos de coleção ou expressão artística, há situações em que esses bonecos ganham um papel simbólico mais profundo — assumindo a função de filhos substitutos, companheiros afetivos ou até instrumentos terapêuticos.

Pesquisas em neurociência indicam que, em algumas mulheres que interagem intensamente com os reborn como se fossem bebês reais, há ativação de áreas cerebrais similares às observadas em mães com seus filhos biológicos. O sistema límbico, responsável pelas emoções, e o córtex pré-frontal, ligado à empatia e ao planejamento, reagem como se a relação fosse legítima. Em contextos de luto, infertilidade, solidão ou depressão, esse tipo de vínculo pode oferecer conforto e estrutura emocional.

Curiosamente, o cérebro que se mobiliza para acolher um boneco também é o mesmo que, em outras circunstâncias, pode incitar comportamentos de agressividade, como os que vemos em estádios de futebol. Torcedores que partem para a violência movidos por rivalidades esportivas têm a amígdala cerebral ativada — região associada à reação de luta ou fuga. Nessas situações, impulsos emocionais suprimem o julgamento racional, e o pertencimento ao grupo (a torcidase sobrepõe ao senso individual de limites e empatia.

O que conecta esses dois universos tão distintos é a maneira como o cérebro humano responde ao apego simbólico. Seja por meio de um boneco que representa um filho ausente, seja por um time que encarna a identidade de um torcedor, há uma tentativa de preencher vazios, projetar desejos e buscar pertencimento. Ambos os casos são expressões de uma necessidade emocional legítima — mas que, quando extrapoladas, podem gerar distorções da realidade.

 

Tratar um reborn como gente ou brigar por um time são exceções nos dois extremos. O ponto de atenção está no excesso. Quando a fantasia se sobrepõe à vida real, ou quando a paixão vira violência, a linha entre o saudável e o patológico pode ser tênue. Compreender esses mecanismos não é apenas uma curiosidade da psicologia: é um passo importante para humanizar a dor, reconhecer os limites do afeto e promover a saúde mental.

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