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O Descobrimento do Brasil é um encontro entre dois mundos.

Publicada em: 22/04/2025 14:29 - ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Durante o período do Império, o dia 22 de Abril era celebrado como uma das datas mais importantes do calendário nacional. Era o marco simbólico do "descobrimento" do Brasil pelos portugueses, em 1500. Com a Proclamação da República e a ascensão dos militares ao poder em 1889, esse protagonismo foi gradualmente deslocado para o 21 de Abril – Dia de Tiradentes – agora erguido como feriado nacional. O objetivo? Apagar as raízes monárquicas e cristãs do 22 de Abril, substituindo-as por um símbolo republicano, mesmo que esse símbolo carregue contornos controversos.

Tiradentes, apontado como mártir da Inconfidência Mineira, tornou-se herói oficial da nova República. Mas há correntes históricas que questionam sua própria existência tal como é narrada: um personagem moldado ao gosto da propaganda republicana, mais símbolo que ser humano, talvez até um mito conveniente.

Nesse processo de construção simbólica da identidade nacional, o 22 de Abril foi esvaziado, reduzido à ideia de “descobrimento” – uma palavra que, por si só, carrega uma visão eurocêntrica e incompleta da nossa história. Afinal, o Brasil não foi descoberto: já havia aqui uma civilização riquíssima, com centenas de povos indígenas, línguas, tradições e modos de vida próprios.

Mais justo e verdadeiro seria chamar o 22 de Abril de o encontro de duas civilizações – ainda que esse encontro tenha sido profundamente desigual e violento. De um lado, os europeus, armados com sua fé, sua ganância e seus navios. Do outro, os povos originários, com sua sabedoria ancestral, sua conexão com a terra e seu modo de vida comunitário.

Relembrar o 22 de Abril, portanto, é também reconhecer os choques, os silenciamentos e os apagamentos que se seguiram. Mas é, sobretudo, uma oportunidade de resgatar memórias, rever interpretações e construir uma visão de país que reconhece sua complexidade histórica.

Entre heróis fabricados e datas escolhidas a dedo, cabe a nós repensar o passado com honestidade – e construir um futuro onde todas as vozes, inclusive as que foram caladas, possam finalmente ser ouvidas.

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